António Cabecinha foi o Secretário-Geral do 1°. Congresso das Comunidades de Emigrantes portugueses no mundo, em 1980
“Foi com grande consternação que a UGT tomou conhecimento do súbito falecimento do companheiro António Cabecinha, cujo funeral se realiza amanhã (hoje 3ª feira), às 9 horas, na Igreja de Santiago, em Portalegre.
António Cabecinha foi um empenhado fundador da UGT e um dos dirigentes de referência nos primeiros anos de existência e consolidação da Central.
Mais tarde optou pela vida profissional, actividade que exerceu igualmente com grande sucesso, não o impedindo de manter uma estreita ligação à Central, cultivando a grande amizade que sempre o uniu aos seus dirigentes.
É então com profundo pesar que, envolvendo todos os que com ele privaram, dirigentes e profissionais da UGT, registamos o seu desaparecimento e apresentamos à sua família as mais sentidas condolências.” (comunicado da UGT/Porto de 19.7.2010, que subscrevo inteiramente)
Tive ontem a triste notícia do decesso do meu amigo e companheiro ANTÓNIO ALBERTO CORREIA CABECINHA, de seu nome completo, apenas com 63 anos de idade.
Conheci-o no chamado verão quente de 1975, quando ambos, como sindicalistas social-democratas, ele entre os bancários e eu entre os empregados de escritório, tentávamos que os nossos sindicatos fossem livres, democráticos e independentes - e com a participação de muitos mais conseguimos tempos depois.
Logo pensámos que o mesmo se devia tentar para a democratização da então Intersindical, hoje CGTP-IN, totalmente subordinada ao PCP, quando vimos que a unidade à força (unicidade) só servia para manipular os trabalhadores ao serviço daquele partido. E para tanto congregámos os sindicalistas social-democratas na TESIRESD (Tendência Sindical Reformista) e conseguimos acordar com os sindicalistas da Tendência Socialista, em 1978, a criação da UGT (União Geral de Trabalhadores), como Central Sindical.
É justo referir aqui um outro companheiro, falecido há 3 anos, o Carlos Cardoso, que com o Cabecinha e comigo constituíamos um “trio de respeito” na vida sindical.
Nestes anos que medeiam entre 1978 e 1984, o António Cabecinha foi incansável no apoio a inúmeros sindicatos e sindicalistas e naturalmente aos mais simples trabalhadores, cujas condições de vida, de trabalho e emprego melhoraram e bastante graças ao seu militantismo político-sindical.
Cabecinha era um homem corajoso, senhor de uma excelente dialética e era daqueles que não virava as costas à luta, sendo, pois, um homem que “antes queria quebrar que torcer”. Em suma, era um homem de honra e de palavra e com uma grande dignidade.
Curiosamente, afastámo-nos em 1984 da vida sindical ativa. Eu liguei-me ao Direito e ele encetou uma brilhante carreira empresarial. Falei com ele em Abril passado pela última vez e pareceu-me bem, sempre brincalhão, como era seu timbre, até que ontem fiquei consternadíssimo com a triste notícia de que tinha regressado à Casa do Pai.
Paz à sua alma. Até sempre caríssimo companheiro! - In: http://sol.sapo.pt/blogs/jorgepaz
Nuno Rebocho - ANTÓNIO CABECINHA – QUE A TERRA LHE SEJA LEVE
António Cabecinha vai hoje a sepultar. Com ele, uma parte fundamental da social democracia portuguesa dos anos de 70 a 90. São duas décadas de que já vai faltando memória
Foi uma das referências da social-democracia no PPD (Partido Popular Democrático), um dos fundadores e dos mais destacados dirigentes da UGT: antigo deputado e membro da Comissão Política de Francisco Sá Carneiro, António Cabecinha vai hoje a sepultar em Portalegre, sua terra natal. Que a terra lhe seja leve.
Com Jorge Paz Rodrigues, Nascimento Rodrigues, Miguel Pacheco, Queiroz Martins, Tomaz Oliveira Dias, Manuel Antónioe alguns outros, Cabecinha estruturou a corrente social-democrata, de raiz sindicalista, que firmemente apoiou Sá Carneiro. Era um “instintivo”, muito mais que um teórico, e de certo modo a alma da TESIRESD (Tendência Sindical Reformista Social Democrata). No interior do PPD/PSD, aliado a Rui Machete, Meneres Pimentel e Carlos Macedo, Cabecinha esteve no baluarte da resistência ao assalto da Direita que acabou por desvirtuar a herança sá-carneirista: derrotado Balsemão, que tentara escorar contra o assédio, foram varridos do mapa, pagando ainda hoje aquele partido o preço da sua descaracterização.
Ao contrário do que enganosamente depois se propalou, foram eles os grandes apoios de Sá Carneiro quando este avançou com a ideia de formatação da Aliança Democrática, AD. Os opositores estavam então na corrente fundamentalista (os “trauliteiros”, assim designados pelos “social-democratas”), entre os quais Helena Roseta e outros navegadores à vista. Sá Carneiro, com lucidez, sabia que o PPD/PSD perderia a sua identidade no seio da AD, se não tivesse um forte esteio social-democrata e sindicalista (isto Pedro Roseta percebeu e teorizou muito bem): e estes levaram muito a sério o papel que desempenharam.
Sei do que falo, porque estive nesses combates, cooptado quiçá em virtude (ou em defeito, se se quiser) da minha raiz marxista, embora então apontado a dedo como “reaccionário” por aqueles que, ainda no radicalismo da extrema-esquerda, me ultrapassaram depois, a alta velocidade, pela direita.
O assalto ao baluarte social-democrata foi feito no seu centro nevrálgico – o sindicalismo, olhado com desconfiança por muitas das bases do PPD/PSD que endeusavam Sá Carneiro sem assimilarem o seu pensamento. O combate político traz, por vezes, esse drama de arrastar as pessoas atrás de signos cujo conteúdo não entendem, porque é mais fácil ter referências do que pensar sobre elas – sobretudo quando a consciência política é demasiado rasteira e nada tem de ciência. O ataque foi desferido pelos sócio-profissionais que se opunham à TESIRESD: para os sócio-profissionais, à maneira leninista, os sindicatos deviam projectar as posições do partido; defendiam os tesiresd, à maneira trade-unionista, que o partido devia reflectir o sindicalismo - era esta, então, a questão de fundo.
O golpe mortal na TESIRESD foi dado por Rui Oliveira e Costa, quando este se passou, com armas e bagagens, para o campo dos sócio-profissionais numa traumática reunião na Fundação Oliveira Martins: em troca de um prato de lentilhas, Rui atirou para o lixo a bagagem teórica e ideológica da Tendência – sacrificou-a. No Congresso da Foz do Arelho celebrou-se o ritual fúnebre, capitulando aí Cabecinha, o que provocou entre nós um doloroso corte de relações. Ainda tentámos (Paz Rodrigues, eu e poucos outros) manter acesa a chama da TESIRESD, mas no Congresso de Entre-os-Rios praticamente só subsistiam as secundinas: éramos os irredentistas, mas a TESIRESD estava morta e enterrada.
A falência da TESIRESD levou ao inevitável e, de resto, previsto: conduzidos por um tacticismo oportunista, sem um norte ideológico, os sócio-profissionais acabaram por deixar a UGT inteiramente nas mãos do Partido Socialista – a corrente social-democrata foi praticamente anulada. E no PPD/PSD, a deriva deu no que deu. Como no banquete de Baltasar, tudo estava contado, pesado e dividido.
Foi este tortuoso processo, que aqui recordo e que daqui dou testemunho, que levou ao apagamento de António Cabecinha. Desapareceu politicamente de cena. Reencontrámo-nos, anos mais tarde, quando Paz Rodrigues chamou a Leiria aqueles que ele apelidava de “históricos” a fim de intentar reactivar a chama social-democrata do PSD. Constatou-se: já nada havia a fazer.
Desgostado com a política, magoado com o rumo que o sindicalismo levava, António Cabecinha reapareceu na Galeria Nasoni, no Porto. Conduzida por ele, a Nasoni foi crucial na popularização em Portugal das obras de Salvador Dali, Feito, Wahrol e muitos outros criadores fundamentais das artes plásticas contemporâneas. Até que o miserável fisco português, feito de tiranias e crapulices contra o cidadão que não tenha a qualidade de mandante político, habilidoso advogado ou banqueiro, quis arrasar a importante galeria de arte do Porto: levou-a uma primeira vez à penhora, ensaiou-o uma segunda vez. Na história da criminalidade portuguesa dos fins do século XX/princípios do século XXI há-de estar este Fisco insano, hediondo e bandoleiro.
António Cabecinha vai hoje a sepultar. Com ele, uma parte fundamental da social democracia portuguesa dos anos de 70 a 90. São duas décadas de que já vai faltando memória. E eu deixo de poder cumprir o ritual de, sempre que passava pelo Porto, ir almoçar com ele nas imediações de Carlos Alberto para cuspir cobras e lagartos sobre “o tempo que passa e seus desvairos”
Nuno Rebocho - http://liberal.sapo.cv/noticia.asp?idEdicao=64&id=29691&idSeccao=527&Action=noticia
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