quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Na Suíça 3% possuem o mesmo que o resto da população !

Apesar de ricos, os suíços não gostam de exibir simbolos de status como jóias ou relógios caros. (Keystone)
Por Etienne Strebel, swissinfo.ch
Um em cada dez bilionários do mundo vive na Suíça. Além disso, 201.700 mil habitantes do país dos Alpes têm fortunas ou bens avaliados em mais de um milhão de dólares.
Esses e outros dados foram avaliados e revelados por uma equipe de sociólogos da Universidade da Basileia através de um estudo intitulado "Como ricos pensam e dirigem" na Suíça.
Quem pode se considerar rico na Suíça? Segundo Ueli Mäder, professor de sociologia da Universidade da Basileia, e seus assistentes, Sarah Schilliger e Ganga Jey Aratnam, essa pessoa precisa ter pelo menos 30 milhões de francos (US$ 30,36 milhões) em bens e fortuna. A partir de 100 milhões (US$ 101 milhões) ela já passa a pertencer ao clube dos super-ricos.
Com o seu estudo intitulado "Como ricos pensam e dirigem", os pesquisadores olharam por trás dos bastidores dos afortunados na Suíça. O país é considerado mundialmente como um dos mais ricos e indica, depois de Cingapura e Hong-kong - a terceira maior concentração de milionários do mundo.
Onde e como vivem os ricos e super-ricos? Quem são eles? Como eles veem as desigualdades sociais? Ao responder estas questões e iluminando o desenvolvimento histórico, assim como a importância social e econômica da riqueza, os acadêmicos apresentam um interessante livro sobre o fenômeno da riqueza na Suíça.
Os autores conduziram entrevistas com ricos, visitaram-nos nas suas moradias, observaram como eles vivem, para quais escolas enviam suas crianças e como aproveitam o lazer. Várias pessoas também no círculo pessoal dos ricos foram entrevistadas, assim como funcionários e especialistas. Além disso, foram avaliados dados científicos e artigos publicados na mídia.
Riqueza e poder
Riqueza e poder são vistos por muitas pessoas como gêmeos idênticos. Essa impressão é confirmada pelo estudo? Sara Schilliger explica: "Claramente. A posse de capital significa ter poder. Porém na Suíça os ricos não estão necessariamente nas posições de maior poder. Agora, com o novo ministro Johann Schneider Ammann, os super-ricos passaram a estar representados no Conselho Federal (n.r.: o corpo de sete ministros que governa a Suíça)."
A assistente científica acrescenta que o poder também é exercido através de redes de influência e diferentes organizações. Ueli Mäder complementa: "Falei com diferentes presidentes de bancos e concluí, dessa forma, que existem estratégias pontuais e elaboradas de forma bastante inteligente com o objetivo de 'bem' informar os políticos, para que eles próprios possam se beneficiar dos frutos. Assim, eu tive a impressão que o poder é percebido de forma seletiva. Esse exemplo pode ser apenas a ponta do iceberg. É uma presunção, mas que está bem próxima da realidade."
Riqueza protegida
Na Suíça, 3% da população possui a mesma fortuna em dinheiro e bens do que os restantes 97%. Essa pequena minoria aproveita desproporcionalmente das atuais leis que regulamentam o direito de herança e também dos baixos impostos sobre fortuna. Como foi possível o eleitor aprovar essas regras nas urnas?
Uma interessante questão para Ueli Mäder: "Houve ricos que me perguntaram por que a maioria da população é a favor da abolição do imposto sobre a herança, que no final poderia beneficiar 80% da população". O professor responde com uma explicação: existiria uma esperança geral que, se os ricos vão bem, algumas migalhas possam sobrar para o resto da população.
Sarah Schilliger interpreta esse fenômeno de uma forma semelhante: "Na Suíça impera a visão de ser possível para alguém que não tem nada se tornar milionário. Isso legitima fortemente a situação de ser rico na Suíça nessa sociedade. Porém também leva ao reconhecimento da desigualdade social, o que é para nós, sociólogos, algo incompreensível", diz a assistente.
Por que a Suíça é tão rica?
Apesar da Suíça não possuir recursos naturais importantes, ela é um país rico. Isso seria fruto do caráter pontual, trabalhador e poupador dos suíços?
Sarah Schilliger não compartilha dessa idealização: "Do ponto de vista histórico, a Suíça se tornou rica através do colonialismo apesar de nunca ter sido uma potência colonizadora", esclarece, lembrando que muitas famílias suíças teriam se beneficiado do aproveitamento dos recursos dos países do hemisfério sul.
Além disso, o país praticamente não foi atingido por guerras e conflitos armados desde a sua criação. "Pelo fato da Suíça quase sempre ter conseguido se distanciar dos conflitos, as fortunas aqui têm uma maior continuidade do que, por exemplo, as da Alemanha."
Outro fator também para explicar a riqueza do país é o fato deste abrigar inúmeros conglomerados internacionais como Nestlé ou a Novartis. "Seus funcionários no exterior contribuem bastante para o acumulo de riqueza na Suíça. Dessa forma podemos dizer que o país é um dos grandes aproveitadores da globalização."
Nem todos aproveitam
A globalização não traz frutos para todos os suíços. Desde a metade dos anos 1970, a desigualdade na distribuição de riqueza aumentou no país, apesar dos gastos no sistema social terem crescido também.
Ueli Mäder contrapõe: "Isso ocorre apenas em números absolutos. Quando colocamos esses gastos em relação ao PIB, que corresponde a um valor muito maior, descobrimos infelizmente que a parte de gastos no setor social decaiu desde 2004."
Esses gastos são relativamente baixos, apesar do país dispor de um sistema de assistência social considerado bom em comparação internacional. "Mas é um sistema que não acompanha o desenvolvimento dos problemas sociais. Ele orienta-se às exigências das famílias clássicas, ou seja, ocupação integral ou, quem já teve trabalho sempre o terá. Essas são exigências que correspondem cada vez menos à realidade atual, o que leva crescentemente pessoas a situações de dificuldade."
Perspectivas
O estudo sugere medidas que poderiam frear essa evolução negativa da sociedade helvética. "Formulamos que o ideal seria ter uma taxação crescente das fortunas e, sobretudo, imposto sobre herança. Além disso, recomendamos outras formas de equiparação social como salários mais elevados para as pessoas de baixa renda", ressalta Sara Schilliger.
Ueli Mäder: "Precisamos fazer mais pela igualdade social. O cisma social aumentou mais do que eu achava ser possível."
Para uma sociedade isso pode ser bastante problemático. "Quanta riqueza pode tolerar uma sociedade se essa apropriação unilateral continuar seguindo curso?" - Etienne Strebel, swissinfo.ch - Basel
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País rico
Apenas 0,0001% da população mundial viver na Suíça, mas 1,1% da fortuna privada mundial está no país. Dos mil bilionários do mundo, pelo menos um décimo vive na Suíça.
A Suíça é o 20° maior exportador do mundo e o 19° maior importador.
Um em quarenta habitantes da Suíça (7,5 milhões) tem bens e fortuna acima de 1,2 milhões de francos.
3% dos contribuintes suíços têm tantos bens e fortunas como os 97% restantes.
85% da população têm menos de 100 mil francos de fortuna líquida. Esse grupo detém apenas 6% de toda a fortuna do país.
As fortunas dos 300 mais ricos habitantes da Suíça passaram de 86 bilhões de francos a 449 bilhões (2009) em apenas vinte anos.
Com uma percentagem de 27% do mercado mundial e um montante de 2.100 bilhões de dólares de fortunas administradas pelos bancos suíços, o país é o maior mercado financeiro de offshore do mundo.
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Ueli Mäder - Nasceu em 1951 - Formado em sociologia, psicologia e filosofia. Formação básica em psicoterapia. Já dirigiu uma ONG de ajuda ao desenvolvimento e foi docente na Faculdade de Trabalho Social de Friburgo. Desde 2005 é professor de sociologia na Universidade da Basiléia e decano na Faculdade de História e Filosofia. Secretário-geral da Sociedade Suíça de Sociologia.
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O livro: - Autores: Ueli Mäder, Ganga Jey Aratnam e Sarah Schilliger - "Como ricos pensam e dirigem" (alemão), Editora Rotpunkt, ISBN 978-3-85869-428-7, 448 páginas, 38 francos.
SOMOS DIFERENTES E MUITO HUMILDES:

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