O primeiro-ministro deu uma entrevista em que mostrou todas as contradições. A crise, de facto, era inevitável
As explicações dadas ontem por José Sócrates na entrevista à TVI mostraram as contradições que todo o povo já tinha percebido: não era preciso ajuda externa, mas de facto tínhamos uma dívida atrasada para pagar e o PEC IV resolvia tudo mas afinal não, porque a ajuda externa devia ser pedida por um governo em plenas funções. "Foi um dos gestos mais irresponsáveis", disse o primeiro-ministro sobre a crise política que se abriu por causa do PEC. De facto, o primeiro responsável é José Sócrates.
Esta foi uma das entrevistas mais reveladoras de José Sócrates, o que é mérito da jornalista Judite de Sousa, mas, sobretudo, prova aquilo que já sabíamos: este governo, agora em gestão, estava completamente sem conserto e sem rumo.
O que ontem Sócrates provou à saciedade é que a crise era inevitável e o primeiro-ministro nunca a quis enfrentar, brandindo os chavões de que a Europa achava o PEC a salvação do euro. A solução de que Sócrates fala nunca o foi, como não o foram as anteriores, consubstanciadas em programas de estabilidade que foram sempre mal feitos e mal geridos por um governo fraco.
É por isso que a terceira carta do PSD ao governo - e à troika - não é guerrilha, ou não é apenas guerra política, é um conjunto de perguntas que faz todo o sentido se queremos mesmo ter vida nova.
"Convém perceber e identificar as necessidades de financiamento com um horizonte mínimo de quatro anos (2011, 2012, 2013 e 2014), para as seguintes entidades de um sector público administrativo alargado (metodologia que o FMI utilizou na sua intervenção de 1983):
- Estado;
- Fundos e serviços autónomos;
- Autarquias;
- Governos regionais;
- Segurança Social;
- Empresas públicas;
- Empresas municipais e regionais;
- Parcerias público-privadas e concessões.
No apuramento das necessidades de financiamento do Estado é fundamental tomar ainda em conta, diz o PSD, a liquidez da economia, "as concessões e parcerias já em operação em que as receitas estão abaixo do previsto", ou ainda
"a necessidade de o governo acudir financeiramente a algumas autarquias e às regiões autónomas, que atravessam graves dificuldades financeiras em situação de pré-ruptura".
Claro que o PSD procura tirar vantagens disto, mas os interesses do país levam a que seja absolutamente necessário fazer, de uma vez por todas, a limpeza do que não está claramente expresso e pode ser fonte de outros problemas mais para a frente. Nesse sentido, as perguntas assinadas, no caso, por Eduardo Catroga, são legítimas e, mais que isso, necessárias para que não haja mais dúvidas. Boa parte da informação é pública, mas o problema deve ser assumido em toda a sua extensão. Só assumindo o problema de forma completa, só explicando às pessoas o beco sem saída em que estamos e que não há superavit que nos valha (Sócrates falou pelo menos três vezes de superavit na execução orçamental deste ano...) porque são migalhas para aquilo de que precisamos nos próximos meses e anos para podermos resolver a coisa.
Foi o pior Sócrates que se viu em seis anos de primeiro- -ministro, porque as contradições e os desvios da realidade ficaram muito expostos e com um outlook muito negativo para os próximos tempos. Só mesmo o PSD lhe dá umas boas notícias de vez em quando...
IN: jornal IONLINE por Manuel Queiroz , Publicado em 27 de Abril de 2011
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