Portugal vive uma crise grave, económica e financeira, e eu percebo que o país se agite perante as perspectivas de futuro do país. Em democracia, a manifestação pacífica e ordeira é um mecanismo social de purga de frustrações e muitas vezes uma forma de exaltar o desespero de quem não vê a sua vida melhorar. É, sem dúvida, preocupante que na manifestação de ontem se empunhassem cartazes com mensagens de ataque à classe política, mas é preciso fazer um esforço para perceber o que leva a esses sentimentos:
Os partidos políticos não perceberam a mensagem e não percebem o que levou à mobilização dos jovens. É assustador que o primeiro-ministro do país faça graças levianas perante os protestos de jovens que interrompem uma sessão de propaganda na sua (dada a actualidade da última semana) triste candidatura a secretário geral do PS. Assumiu o protesto como partida de Carnaval. Depois, de Bruxelas, diz que o Governo tudo está a fazer pelo futuro dos jovens. O governo, e a oposição não percebem o que pedem os jovens. Isso é culpa nossa. Sobretudo das juventudes partidárias. Ainda não tivemos a coragem de, no âmbito das nossas estruturas partidárias, assumir um discurso próprio que poderá não ser fácil, mas que é absolutamente necessário e fundamental, sob pena de vermos o protesto e frustrações dos jovens capitalizados de forma absolutamente irresponsável pelo populismo de quem quer vender discos com canções e músicas de protesto.
Os jovens pedem que mudem as regras do jogo. O que provoca a revolta e a frustração é sentir que o mercado de trabalho lhes fecha a porta sob a forma de um contracto de trabalho que lhes garanta protecção social, ao mesmo tempo que precisa do seu trabalho sob a forma de: contratos temporários com remunerações atentatórias do seu mérito e produtividade; contratação por recibos verdes de forma abusiva; estágios e mais estágios com remuneração subsidiada pelo estado. É mentira que a economia portuguesa não consiga absorver a força de trabalho dos jovens. O mercado e as empresas precisam dos jovens e das suas qualificações para poderem competir num mercado global onde o potencial humano é fundamental. Que país é este que parece poder dar-se ao luxo de sangrar uma geração que durante vinte anos formou e educou como nunca antes tinha feito na sua história, com o sacrifício de uma sociedade que custeou uma escola pública e um sistema de ensino superior praticamente gratuito? Para que serviu afinal esse esforço?
Um país que se dá ao luxo de abdicar de quadros qualificados e da força das suas gerações mais novas, é um país que não precisa de qualificações e que caminha no sentido da mão de obra barata e sem qualificações. Às gerações empregadas, muitas vezes protegidas nos seus direitos adquiridos de avaliações de competência e mérito, que seja claro que o seu futuro é o da deterioração dos seus salários e direitos. Quando ouvi, no Sábado, a par da manifestação na Avenida da Liberdade, num comício que reuniu 7000 professores gritar pelo fim da avaliação dos professores, não pude deixar de pensar como estes dois protestos se completam no diagnóstico da esquizofrenia do mercado de trabalho do nosso país que exclui aqueles de quem precisa para aumentar a capacidade competitiva do país e protege os que não estão dispostos a viver com as novas regras do mercado globalizado e competitivo. É preciso perceber que não há moralidade em mandar os jovens emigrar, não por se acreditar que é essa a melhor solução para os jovens e para o país, mas pela defesa de interesses corporativos e egoístas de quem não admite viver num mercado de trabalho competitivo e globalizado.
Nós, juventudes partidárias, temos de dar voz a estes jovens, a bem da democracia e da credibilização da classe política. Vamos assumir a defesa dos interesses dos jovens que representamos! Temos de capitalizar este descontentamento, para que o protesto e a frustração não caia no populismo de quem julga mudar o mundo com um megafone na mão...
Uma psicose de Rui Costa Pinto in: http://psicolaranja.blogs.sapo.pt
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