quarta-feira, 24 de março de 2010

PERFIL DO NOVO LÍDER DO PSD

Manuel Correia de Jesus
1. Tomada de posição pública
Não tenho por hábito abordar questões internas do meu Partido fora dos seus órgãos próprios. É assim que entendo a relação de pertença a um partido político. Se é verdade que todos os militantes têm o direito de crítica e de participação nas opções do partido, também é verdade que sobre eles impende a obrigação de o fazerem na forma e nos lugares próprios, de modo a não prejudicarem a imagem e a unidade do Partido e, consequentemente, a não impedirem o prosseguimento da estratégia definida em Congresso e a não embaraçarem a acção dos que têm legitimidade para actuar em nome do Partido. Porém, vou abrir uma excepção relativamente às próximas eleições directas para a escolha do futuro líder do PPD/PSD. Primeiro, pela relevância de que se reveste, neste momento, a nova liderança do PSD, em termos partidários, mas sobretudo, em termos nacionais. Segundo, porque o processo das chamadas “directas” é por natureza público e mediatizável. Terceiro, porque cerca de trinta anos de militância activa, durante os quais exerci cargos de responsabilidade partidária e também funções parlamentares e governativas, constituem-me na obrigação de tomar posição sobre tão magna questão. Mesmo assim, não me envolverei na disputa dos nomes dos candidatos que já se encontram no terreno, limitando-me a caracterizar o que penso dever ser o perfil do novo líder do PSD.

2. Que seja um patriota
A primeira condição é que seja um patriota. Isto é, que conheça e sinta a Nação Portuguesa em toda a sua plenitude. Que pela sua mundividência, seja capaz de apreender as aspirações profundas do Povo Português e erigi-las em desígnio nacional, mobilizador das energias dos cidadãos e das suas organizações sociais, económicas, culturais e recreativas. Que, em cada momento, seja capaz de olhar para Portugal no seu todo e não apenas para a faixa continental. Que seja sensível à existência de duas Regiões Autónomas, que são parte integrante da Nação Portuguesa. Que saiba que quase metade da população portuguesa vive dispersa pelos cinco continentes e que esses portugueses, através das suas Comunidades, afirmam a presença de Portugal no Mundo. Que tenha a noção de que a Pátria Portuguesa assenta em instituições basilares, como a Família, as Forças Armadas, as Universidades, as Igrejas, nomeadamente a Igreja Católica, as Misericórdias, e se mostre capaz de, uma vez no governo, defendê-las e valorizá-las. Que coloque em primeiro lugar a defesa e divulgação da Língua Portuguesa e que tenha orgulho na nossa História. Que perceba e potencie os eixos estratégicos da nossa política externa, nas vertentes europeia, lusófona e transatlântica. Em suma, que seja um Político, que tenha dimensão de homem de Estado.

3. Que seja um social-democrata
O segundo requisito do novo líder é que, do ponto de vista ideológico, seja um social-democrata, na linha da tradição e da acção dos líderes históricos do PPD/PSD, quer ao nível nacional, quer ao nível autonómico. Que acredite na perenidade do ideal social-democrata, síntese de liberdade, iniciativa privada e intervenção reguladora do Estado. Que se afirme pela defesa dos princípios e dos valores da social-democracia, imortalizados no hino do PPD/PSD, através da tetralogia “Paz, Pão, Povo e Liberdade”. Que aceite, como método de actuação, o reformismo, a tolerância e o pragmatismo, tendo presente que: “Na conciliação entre o Mercado e o Estado, por um lado, e na concertação entre o Trabalho e o Capital, por outro, radica o duplo compromisso da social-democracia” (vide Programa do PSD, pág. 50). Que encare o PSD como um partido baseado na dignidade da pessoa humana, interclassista e intergeracional.

4. Que tenha carisma
A terceira condição, é que o novo líder tenha qualidades pessoais de liderança. Antes de mais, um forte carisma, que seja capaz de mobilizar as bases do Partido e o povo português para um projecto de ruptura com a política espectáculo, com a promiscuidade entre interesse público e interesses privados. Ruptura com o condicionamento e instrumentalização de órgãos de comunicação social e de grandes empresas, postos ao serviço de ambições pessoais de poder. Um projecto que enfrente os grandes problemas nacionais: o desemprego, o endividamento, a estagnação económica, a pobreza e a injustiça fiscal. Um projecto que assegure a independência dos tribunais perante o poder político e impeça, de forma eficaz, a instrumentalização política dos processos judiciais, que crie condições de uma justiça pronta, sem deixar de ser “justa”. Um projecto que se baseie numa visão integrada do país, esbatendo assimetrias e desigualdades, combatendo a desertificação do interior e atenuando o défice demográfico. Um projecto que pacifique as escolas e advogue um sistema de ensino baseado no rigor, na exigência e na autoridade e competência dos professores e dos órgãos de gestão escolar. Um carisma capaz de fazer ver aos portugueses que o retrocesso dos últimos quinze anos não é uma fatalidade. Que as energias da Nação se devem soltar para construir um Portugal mais livre, mais próspero, mais evoluído. Um carisma gerador de confiança e auto-estima, que privilegie o trabalho e o mérito. Um líder que tenha capacidade e conhecimentos e independência para pensar pela sua própria cabeça, que não precise de recorrer a fichas elaboradas por um qualquer ajudante, nem a textos escritos por terceiros.

5. Que seja um autonomista
Um líder que tenha cultura política. Que, nomeadamente, saiba o que é a autonomia regional. Que saiba que em Portugal há duas Regiões Autónomas. Que não confunda uma Região Autónoma com um qualquer distrito do Continente, tal como fazem os inimigos da Autonomia. Que tenha, na teoria e na prática, sido coerente com a orientação permanente e continuada do PPD/PSD, como Partido da Autonomia. Que seja capaz de lutar contra o separatismo que no Continente existe em relação à Madeira e aos Açores. Que interprete correctamente os princípios da subsidiariedade, da solidariedade, da coesão social e territorial, de acordo com a Constituição e o Tratado da União Europeia. Que conheça e alguma vez tenha sentido os custos da insularidade, que estão na base do conceito de Regiões Ultraperiféricas, e se proponha defender a densificação desse conceito de modo favorável às Regiões Autónomas.

6. Que tenha carácter
Finalmente, um líder que tenha carácter, palavra aqui usada na sua acepção científica, isto é, como sinónimo do seu “eu intrínseco”. Que preze a verdade, que seja leal, honesto e generoso. Que seja genuíno e autêntico, que acredite sinceramente no que diz aos portugueses. Que não seja tacticista, nem perverso.
Só com tais características é que o novo líder do PSD merecerá a confiança dos militantes, unirá o Partido e ganhará Portugal. In: http://domaraserra.blogs.sapo.pt/

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